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A Sabedoria do Oráculo

Você já assistiu o filme Matrix? Se não assistiu  e gosta de perguntas intrigantes e ficção científica, eu recomendo.

Oracle Advice - We can't see past the choices we don't understand

Há uma cena muito interessante do filme Matrix, onde o guardião leva Neo ao encontro do Oráculo, que vou adaptar aqui na forma de diálogo:

(Neo – o personagem principal da trama – caminha por um longo corredor branco de portas verdes, ao lado de alguém que aqui vou chamar de “O guardião”. O Guardião o leva para ver o Oráculo. Eles conversam.)

Neo: Você é um programa? O que você é?
O Guardião: Eu protejo aquilo que importa mais. (O Oráculo)

(O Guardião então abre uma porta para Neo, que o leva para uma praça, onde há uma mulher sentada, alimentando corvos. Ela é conhecida como o Oráculo.Neo observa o ambiente ao seu redor, hesitante, mas curioso. O Oráculo o chama para perto.)

Oráculo: Venha, sente-se aqui. Deixe-me dar uma olhada em você. Nossa, veja só… Você se saiu bem, não é? Como você está?
Neo: Estou… Bem, eu acho. Não tenho dormido muito.
Oráculo: Vamos chegar nisso. Por enquanto, por que não senta?

(Neo se senta, ainda cauteloso.)

Oráculo: Vamos tirar o óbvio do caminho.

Neo: Você não é humano, certo?
Oráculo: Claro que não. É até difícil algo ser mais óbvio do que isso.

Neo: Se eu tivesse que chutar, diria que você foi programada pelo mundo das máquinas. Assim como ele.
Oráculo: Certo, até então faz sentido.

Neo: Mas, se isso é verdade, isso significa que você é parte do sistema. Outro tipo de controle.
Oráculo: Continue.

Neo: A pergunta mais óbvia seria: como posso confiar em você?
Oráculo: Bingo! É um dilema, sem dúvidas? A má notícia é que não há como você saber com certeza se estou aqui para ajudar ou não. Isso depende de você. Só há uma escolha a fazer: decidir se sua mente vai acreditar no que vou lhe dizer, ou rejeitar.

(Neo hesita. Oráculo oferece a Neo uma bala a ele e pergunta se ele quer.)

Neo: Você já sabe qual será minha escolha, não é?
Oráculo: Eu não seria um oráculo se eu não soubesse!
Neo: Mas se você já sabe, como eu posso escolher?
Oráculo: Porque você não veio aqui para fazer uma escolha. A escolha já foi feita. Você está aqui para entender o porquê você fez esta escolha.

(Neo reflete por um momento, intrigado, e pega a bala.)

Oráculo: Eu achei que você já tinha compreendido isso.

(Oráculo come uma bala.)

Neo: E porque você está aqui?
Oráculo: Pela mesma razão. Eu adoro balas.

Neo: Mas por que você nos ajuda?
Oráculo: Nós estamos todos aqui para fazer o que todos estão aqui para fazer. Eu estou interessado em uma coisa, Neo, no futuro. E, acredite, a única forma de chegarmos lá, é juntos.

Neo: Existem outros programas como você?
Oráculo: Não como eu, mas, olhe ao seu redor. Veja aqueles pássaros. Em algum momento, um programa foi escrito para governá-los. Para cuidar das árvores, do vento, do nascer e do pôr do sol. Há programas rodando por toda parte, fazendo o que foram criados para fazer ou invisíveis. Você nunca nem saberia que eles estiveram aqui. Mas os outros… você ouve sobre eles toda hora.

Neo: Eu nunca ouvi.
Oráculo: Mas é claro que você ouviu. Toda vez que você ouviu alguém dizer que viu um fantasma, um anjo… Toda história que você já ouviu sobre vampiros, lobisomens ou alienígenas… É o sistema assimilando um programa que está fazendo algo que não deveria estar fazendo.

(Neo fica pensativo. A expressão do Oráculo se torna mais séria.)

Oráculo: Você tem visto a porta de luz nos seus sonhos, não é?
Neo: Sim.

Oráculo: O que acontece quando você passa por ela?
Neo: Eu vejo Trinity e algo acontece… Algo ruim. Ela começa a cair. E então eu acordo.

Oráculo: Você vê ela morrer?
Neo: Não.

Oráculo: Você tem o dom da visão agora, Neo. Você está vendo o mundo agora sem a limitação do tempo.
Neo: Então por que não consigo ver o que acontece com ela?
Oráculo: Porque nunca podemos ver além das escolhas que não entendemos.
Neo: Você está dizendo que tenho que escolher entre a vida ou a morte de Trinity?
Oráculo: Não. Você já fez a escolha. Agora você só precisa entendê-la.
Neo: Não. Eu não posso fazer isso. Eu não vou.

Oráculo: Mas você tem que fazer.

Neo: Por quê?

Oráculo: Meu tempo acabou. Esteja lá. Você terá que estar lá, no lugar certo, na hora certa. Só assim você terá uma chance.

(O Oráculo se levanta. Neo a observa, sentindo o peso do momento.)

Neo:
Oráculo: Parece que toda vez que nos encontramos eu não tenho nada além de más notícias. Eu sinto muito por isso, de verdade. Mas o mais importante, é que você me faz acreditar.

Oráculo: Boa sorte, escolhido.

(O Oráculo sorri, se vira e vai embora.)

Então vamos lá. Porque eu trouxe esta cena aqui? Acredito que esta cena ilustra perfeitamente o que buscamos quando vamos buscar respostas em um oráculo, seja ele qual for.

Buscamos um oráculo quando estamos com alguma dúvida que de forma lógica ou consciente não conseguimos responder, pois quando tentamos, acessamos pensamentos e sentimentos que não temos capacidade  de lidar, seja por falta de recursos ou porque nos provocam gatilhos emocionais que trazem sofrimento. No fundo, nós já temos a resposta para esta pergunta. Só precisamos compreender o que nos levou a questionar e porque escolhemos esta resposta como solução do problema.

Isto vale para qualquer situação da vida, mas como referência, vou usar o sonho de Neo, que é discutido pelo Oráculo, onde Neo diz que não vai escolher se Trinity vai ou não morrer, porque ele não consegue. Ele não quer nem olhar para isso, e é por isso que no sonho, ele vê ela cair, mas não vê ela morrer.

Neo ama Trinity. Seria inconcebível para ele decidir entre a vida e a morte dela. Ele não consegue nem pensar sobre isso, por isso quando sonha com isso, sempre acorda assim que ela cai. No entanto, o Oráculo diz a ele que ele já fez a escolha. E ele precisa entendê-la, mesmo que ele ainda esteja em negação.

Muitas vezes temos uma decisão muito difícil a fazer, que nos obriga a passar por um luto. Isto pode ser sobre uma pessoa que amamos ou até sobre algo em nós mesmos que precisamos deixar ir. É algo que gera um conflito interno e muitas vezes um profundo sofrimento. Deixar ir é um dos maiores desafios da vida, pois vivemos em um mundo de materialismos, de apegos. Precisamos tocar, sentir o calor, o cheiro, precisamos ter. A não materialidade de algo ou de alguém pode ser algo inconcebível em nosso pequeno universo particular. Ainda assim, a vida é feita de ciclos: nascer, crescer e morrer. Tudo que eu dia nasceu, morre, é inevitável. É uma lei da qual não podemos fugir, e a dor de entender que nada nem ninguém é eterno em nossas vidas (nem nós mesmos!)  é sempre algo difícil de processar.

O Tarot, e tantos outros oráculos, podem nos ajudar nisso. De forma enigmática, simbólica e lúdica, eles nos ajudam a processar nossos pensamentos e sentimentos a cerca de uma situação. Mais do que uma forma de contato com o invisível, através dele acessamos informações presentes em nosso inconsciente e as trazemos a luz da nossa sabedoria (como nos mostra a carta “O Ermitão”). Desta forma conseguimos, gradualmente acessar as emoções que não queremos sentir e ressignificá-las, curando as nossas feridas emocionais. É um processo muito semelhante ao da psicoterapia. Sem dúvidas a psicoterapia de longo prazo traz  benefícios imensuráveis e  todos deveriam ter a oportunidade de fazer psicoterapia regularmente. Mas os oráculos, de forma mais subjetiva, também podem nos ajudar a refletir e a ressignificar as emoções que precisam de um olhar mais profundo. Através de sua simbologia, podemos perceber os padrões que repetimos e imaginarmos novas possibilidades se abrirmos o nosso coração e nossa mente para ver além do que desejamos, além do tempo. São caminhos diferentes, e ambos trazem benefícios. Você mesmo pode utilizar o Tarot ou outros oráculos como uma forma de refletir sobre suas escolhas e ações. Um diário também pode ajudá-lo nisso. Mais do que ter fé, é preciso entender que você já traz todas as respostas dentro de você. Somos todos iguais e todos somos seres divinos, cada qual em seu caminho, no seu próprio tempo de evolução.

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